Uma técnica literária para aprender piano

Há muitos muitos muitos invernos atrás (talvez uns 15, 16… quem sabe 18 anos atrás?), tive um lapso de memória monstruoso justamente no momento de tocar junto com uma orquestra.

O fato é o seguinte:

Quando você tem de tocar sozinho, “esquecer” é um tipo de problema.

Quando está tocando junto com uma orquestra, “esquecer” é um tipo de problema muito pior.

E eu estava lá, no Sesi da Avenida Paulista, encarando o piano, e sem a menor idéia do que fazer.

Claro, eu não era um iniciante.

Já tinha muita experiência acumulada.

Então cometi o pecado mortal de:

“– Não sei o que fazer, vou tocar qualquer coisa…”

E, de fato, a música saiu e ninguém notou que eu estava com problemas.

Simplesmente me apoiei na memória mecânica e mandei brasa.

(“memória mecânica” é um bom nome, não me incomodem com definições científicas)

Mas é claro que decidi outra coisa:

Nunca mais passar por tal situação.

E pra encurtar a história que deveria incluir vários anos seguintes pra ser totalmente contada, fiz de tudo pra entender como lidar com o estudo de modo que fique bem claro o processo de aprendizado e, junto com ele, quais ferramentas técnicas (ou truques) poderiam ser combinados pra percorrer o processo.

Uma das conclusões é que o “processo” não é bem um “processo”.

Pelo menos não no mesmo sentido de uma linha de produção de carros.

A ordem das partes é muito mais flexível.

Quanto aos truques, um que é muito eficaz, é o mesmo utilizado em vários livros de poesia (e também no cinema):

Começar pelo meio.

“In Medias Res”.

O músico tem de ser capaz de começar a música por qualquer parte que seja.

Principalmente “do meio” que é mais ou menos o ponto onde o estudo começa a ficar relaxado.

Agora “Começar pelo meio” não se aplica apenas ao meio exato.

Mas em qualquer parte.

Claro que eu já sabia disso antes daquela apresentação trágica.

Acontece que, outra coisa que aprendi (e que comentei no vídeo “Os 3 tipos de memória necessários para aprender piano”), é que o segredo pra qualquer modo de estudo ou aprofundamento verdadeiro e, como consequência, para a eficácia de um “truque”, está no quanto de consciência (ou intenção) se coloca naquilo.

Claro que não há necessidade de perceber isso de uma hora pra outra.

Conforme avança no estudos, o aluno aprende a integrar todas as partes.

Assim ele aprende aos poucos os pontos importantes pra colocar sua consciência.

É nesse momento que truques como o “in medias res” tem seu efeito pontecializado.

(Nota: Totalmente iniciante no piano ou teclado? Então conheça o Minicurso de Piano Para Iniciantes. Cadastre-se aqui.)

minicurso-piano-note