Uma rajada de metralhadora na ladainha das “questões pessoais”

Um bom e respeitável fuzilamento se trata de um paredão e uma bala.

Aqui não há nada respeitável.

Prefiro uma dilacerante rajada de metralhadora.

E quem merece tal tratamento?

As malditas “questões pessoais”.

Vejamos:

Passo uma fórmula simples e descomplicada do tipo “mão separadas + lentidão” justamente porque é simples e descomplicada, mas o aluno pergunta “– e a contagem rítmica?!?”, “– vamos deixar de fora por enquanto”, respondo. Depois de 3 dias ele retorna e vamos conferir o resultado. Nenhuma mudança.

“– Como você estudou?!?”

“– Pra falar a verdade não consegui estudar direito, eu não sabia o quão lento, sabe, pro pianista oriental lentidão é 200 bpm, pro russo é 150 bpm, pra mim não sei se é algo entre 30 ou 60 bpm… fiquei confuso..”

“– Não era necessário uma exatidão metronômica, só o tanto que você consegue fazer bem lento… mas tudo bem… siga em algo como 45 bpm e tente chegar num número mais confortável para mais ou para menos”.

Depois de 3 dias.

“– Toque e vejamos como está!”

Mesma coisa.

“– O que aconteceu?”

“– Meu dedos 4 e 5 são tão mais duros que os outros, acho que preciso de um trabalho especial pra eles…”

“– Você fez o que eu falei??”

“– No primeiro dia até fiz, mas era pra repetir cada mão quantas vezes? 3 ou 10? E o problema dos meus dedos 4 e 5? Deixei pra esclarecer essa dúvida antes de me dedicar mais…”

E por aí vai….

Tem o caso pior.

Tem o caso de quem me manda e-mail.

4.560 palavras pra contar sua “questão pessoal”.

“Professor, vi seu vídeo novo para iniciantes e [4510 palavras depois]… por causa do que expliquei não consigo fazer a contagem de 1e2e3e, você acha mesmo que essa contagem é importante?”

Não.

Não acho mesmo importante.

Aliás eu peço pra fazer porque acho que não tem importância.

Gosto de ver meus alunos perdendo tempo.

Além do mais, você tem razão…

Todas as coisas que vamos aprender devem ser perfeitamente executadas sem dificuldade na primeira vez. Igual um bebê quando aprender a andar. Já na primeira tentativa sai tudo certo, sem dificuldades. Ou quando fizemos a primeira aula pra aprender um idioma estrangeiro… Já somos fluentes de primeira.

Então se não conseguimos fazer algo de primeira…

Alguma coisa deve estar errada.

Bem, estou vendo aí o corpo das “questões pessoais” se contorcendo depois de ser alvo de minha raiva.

Sobra alguma coisa dessa violência?

Sim.

Sobram as verdadeiras questões.

Aquelas que não são desculpas disfarçadas…

Que não são justificativa pra preguiça…

Nem por um impulso inquiridor.

Mas que aparecem do verdadeiro estudo e não de um “será que… ?!?!?”

Não vou nem abrir a cova para o corpo das “questões pessoais”…

Vou deixar ele aí didaticamente exposto à multidão.

(Nota: Totalmente iniciante no piano ou teclado? Então conheça o Minicurso de Piano Para Iniciantes. Cadastre-se aqui.)

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