Uma novidade cheia de traças e teias de aranha

Recentemente assisti à uma entrevista do músico Lobão, e ele dizia que, no começo do século XX, havia um sentimento geral de insatisfação musical, causado principalmente pela opinião de que a música chegara num beco sem saída, ou seja, haviam se esgotado as possibilidades para novas composições. Segundo Lobão, o tal esgotamento não era verdadeiro, pois ainda havia muito a ser explorado nas variações rítmicas.

Bem, talvez tenha sido apenas uma simplificação do Lobão, mas não posso concordar com essa avaliação.

Eu concordo mesmo é com Chico Anísio, que disse mais ou menos isso:

“O artista profissional está sempre enjoado da sua arte, o que não significa que o público esteja”

O artista profissional é aquele que está disposto a ser o veículo pleno da arte. Pra isso ele tem de abdicar de ser impressionado a todo momento, ele tem de se acostumar com o resultado artístico, portanto, quando estiver pronto pra apresentar aos outros, aquilo já não é mais novidade pra ele. Ele faz isso pra que se torne um veículo perfeito. Digamos que seja essa a cruz do artista profissional. E isso é verdadeiro mesmo para a improvisação.

O foco está nos outros.

Mas esse é o pensamento antigo.

O que aconteceu no começo do século XX é que “o outro” começou a ser tirado da equação.

O foco passou a ser “eu”.

O artista estava dando mais atenção para sua insatisfação.

E quando isso acontece, variar ritmicamente, como propôs Lobão, não é suficiente.

Era necessário uma ruptura muito muito muito maior.

E foi o que aconteceu.

Pra resumir:

Grande parte da elite artística hoje em dia só produz coisas incompreensíveis. “Novidade” tornou-se por si mesmo um grande valor artístico. O que, na minha arrogante opinião, só trás novidades com cheiro de guarda-roupa, daqueles cheios de traças e teias de aranha. Misturada confusamente com a corrida por inovação tecnológica, que é algo completamente diferente, parece que hoje em dia a novidade total é um dos bens mais desejados.

Talvez por isso tanta gente procure o pulo-do-gato pra aprender piano…

Elas acham que alguém inventou a super-novidade que ensina piano rapidamente.

Ou o super-aplicativo inovador que burlou as limitações do cérebro e ensina a tocar brincando.

E porque estou falando tudo isso pra vocês?

Por nada especial.

Não quero convencer ninguém a concordar com esta minha visão.

Que sirva apenas para aqueles que mesmo inconscientemente estão buscando esse tal pulo-do-gato:

Eu não sou o portador desse tipo de coisa.

Nem jamais serei.

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