Sedimentação -> Decantação -> Interpretação Musical

No vídeo de ontem mostrei alguns exemplos não só de profissionais, mas de pianistas em nível supremo que não precisam inventar malabarismos musicais para soar maravilhosamente bem. Aproveitando aqui este espaço em que posso falar para um público não tão genérico e aberto quanto um público de Youtube, vamos periodizar o trabalho desses pianistas.

Assim podemos aprender algo prático.

Algo que realmente pode transformar o NOSSO dia-a-dia.

Lembra-se lá na escola dos períodos necessários para separar dois materiais de densidades diferentes?

Provavelmente não se lembra, né?

(e “escola” e “materiais de densidades diferentes” na verdade deve ter causado náuseas e não vontade de lembrar)

A analogia é interessante então vale a pena relembrar:

Pra separar a água pura musical que precisamos, temos de tirar os sólidos que a deixam impura.

Pra isso temos a “sedimentação”:

Deixar que os sólidos se depositem no fundo de um recipiente.

A sedimentação musical funciona assim:

É o momento de aprender as notas, o dedilhado e o ritmo. Não há espaço pra doidera aqui. Não se muda nota. Existe alguma liberdade no dedilhado (não para os iniciantes). Não se muda ritmo. Vale o que está na partitura ou o que foi indicado pelo professor.

Pronto?

A água está pura?

Parece que está, sim.

Mas se agitarmos o recipiente o sólido no fundo se mistura e tudo fica sujo novamente.

Então temos a “decantação”:

Com cuidado e atenção, passamos o líquido para um outro recipiente, sem deixar que a agitação dessa mudança misture o sólido do fundo com a nossa água quase pura.

A decantação musical funciona assim:

Colocamos as articulações e dinâmicas indicadas.

Assim subimos um nível de pureza, a nossa água se mantém transparente e já serve pra matar a sede.

Fim?

Aí é que podemos colocar algo que dá sabor.

Algo que seja realmente nossa “interpretação”.

É o período de adicionar detalhes que não estão indicados, mas que fazem parte do estilo da época da peça. Pode-se inclusive buscar soluções para que a peça soe mais bonita, soluções que não estão indicadas em lugar algum, algo que demande mais do que uma mera aplicação de regras de estilo.

Obviamente esses períodos não acontecem de maneira tão separada para um músico experiente.

(embora muitas vezes ele recorra a isso)

Nesse caso, tudo acontece mais ou menos junto.

Mas para nós, que buscamos aprender alguma coisa com eles (e não só usufruir da sua arte), ter esses períodos bem delineados, percorridos um por vez, deixa tudo muito mais fácil e, mais do que isso, permite que nossas habilidades se desenvolvam sem confusão.

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