Secretamente comemoro a sua derrota no piano

Dom Bernardo, abade do mosteiro trapista, conta em uma de suas aulas uma história muito interessante.

Quando foi jesuíta, ele se submeteu a um treinamento central da Companhia de Jesus:

Observar a si mesmo até encontrar suas inclinações pra maldade.

Ele olhava, olhava, olhava e só achava a força que queria combater o mal, não a que queria realizá-lo. Dia após dia ele era obrigado a dizer ao seu superior que as pessoas todas estavam tentando melhorar, que ninguém era mal, que essa história de ser um pecador não era tão verdade assim. Tudo o que o superior falava era: “– Acho que você tem de continuar com os exercícios”. Até que o grande dia chegou.

Ao ver Dom Bernardo cabisbaixo, o superior lhe perguntou:

“– O que aconteceu?”

E ele respondeu:

“– Sou um pecador. Só penso em mim mesmo. Não consigo me dedicar ao bem só pelo bem.”

E o superior efusivamente comemorou:

“– Mas que coisa boa!!!”

Pois é exatamente isso que tenho vontade de responder quando algum aluno me diz que, ao tocar pra familiares ou amigos, deu praticamente tudo errado, que errou de novo aquela parte que ele já sabia que não estava boa, que teve vontade de se esconder numa caixa de fósforos pra ser confundido e terminar com a cabeça em chamas.

“– Que coisa boa!”, sempre digo eu internamente.

Não tem outro jeito de evoluir.

É preciso colocar sua pele em risco pra identificar os problemas reais.

Não tem situação melhor do que se apresentar pra alguém.

(ou gravar-se a si mesmo)

Claro que a exposição a qual você deve se submeter precisa ser controlada.

No começo, só as suas pessoas.

Mas é pra aparecer.

Sair do quarto escuro e úmido das imaginações perfeitas e entrar na luz reveladora das decepções saudáveis.

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