Senhor psiquiatra aleatório, preciso da sua ajuda.
Estou dormindo bem.
Comendo bem.
Trabalhando.
Mas uma idéia fixa tem alterado meu humor.
Não consigo esquecer que a única forma de aprender piano é se habituar a tocar pra alguém depois de a música estar suficientemente pronta (com suficiente, quero dizer as notas certas, os dedos certos, no ritmo legalzinho e num andamento legalzinho).
Doutor, os alunos têm na cabeça uma ideia de perfeição que é totalmente imperfeita.
Não tiram da cabeça tocar igualzinho viram em algum vídeo (cheio de truques de edição) de algum músico profissional.
Não percebem que há um perfeito para cada etapa.
E que o perfeito pra começar a se expor é o que chamo de suficiente:
Ou seja, notas, dedos, ritmo e andamento.
Eu reduzo a tarefa deles a esses poucos parâmetros mas eles não se concentram neles. Deixo claro que acertar esses aspectos com vistas a uma apresentação é o melhor pano de fundo possível para que o aprendizado aconteça, mas parece que falo pras paredes.
E tem mais…
O senhor acha que adianta dizer que a autogravação meio que substitui a apresentação?
Ah…
O senhor acha que adianta porque essa associação autogravação/apresentação é óbvia?
Não se engane, doutor.
A maioria acha que estou falando abrobrinha.
E nem sequer experimentam.
Pois se experimentassem, sairiam da imaginação e começariam a ganhar a realidade.
Então, doutor, qual o tratamento que o senhor me recomenda?
Não tenho como esquecer que quem quer aprender piano tem de se gravar ou/e apresentar regularmente. Não me peça para rever esse posicionamento. Isso aí é cláusula pétrea no meu discurso pedagógico. Talvez o senhor pense que eu deva simplesmente continuar a ensinar o que dá resultado, tentando entender que a verdade demora a sedimentar no coração alheio.
Pode ser.
É o que tenho feito.
De qualquer modo, estou esperando uma resposta sua.
Estou meio perdido.
Agradeço desde já.
Ah, se o senhor quiser aprender piano, siga aqui: