O Processo

Se você não tocar constantemente uma música, você a esquece.

E quanto mais complexa for a música, mais rapidamente ela é esquecida.

Por isso os músicos tem “repertório”.

Aquelas músicas que eles revisitam constantemente.

Por outro lado, uma música com uma estrutura mais simples, que segue uma sequência de acordes bem estabelecida (ou simplesmente repetitiva), que resolve suas tensões da maneira mais imediata (tensão-relaxamento, tensão-relaxamento, tensão-relaxamento, sem nenhum desenvolvimento), que varia quase nada nas divisões rítmicas (tempos que seguem o pulso ou tudo com divisão por 2), essa é muito mais simples de memorizar, pois basicamente você precisa captar a fórmula dela e, como se sabe, essa é a situação perfeita pra nossa memória.

Mais do que isso:

Seus dedos também têm uma espécie de memória.

Mesmo que você saiba as notas e o ritmo de uma música, mesmo que já tenha tocado a tal música, nada garante que vai conseguir tocá-la novamente.

E aqui está o pulo-da-ema, pulo-da-jaguatirica, pulo-do-panda do aprendizado:

É a continuidade nos estudos que vai sedimentar essa habilidade.

A memória dos seus dedos é um pouco mais teimosa.

Ela precisa de todos os dias, durante muito tempo, com um trabalho amplo pra realmente aprender.

Aqui chegamos num ponto de tensão.

Quem quer tocar piano, quer, como está óbvio, “tocar piano”.

Não quer “fazer um trabalho amplo, todos os dias, duramente muito tempo”.

Quer tocar, puxa vida!, é algum crime querer tocar logo?

Não, não é crime.

Mas o professor sabe que existe esse processo de sedimentação.

Então ele não está interessado que o aluno toque tal ou qual música…

Está interessado que ele passe pelo processo.

Um quer chegar no objetivo.

Outro quer fazer passar pelo processo.

Essa é a luta entre aluno e professor.

O aluno acha que o professor é exagerado e ensina coisas inúteis.

(é verdade na maioria dos casos)

O professor acha que o aluno é imediatista e quer milagre pra chegar no resultado.

(é verdade na maioria dos casos)

Nessas circunstâncias é que o “aprendizado” pode seguir.

E se o aluno equilibrar tudo, se prevenindo dos atalhos absurdos, conseguirá chegar lá.

Por isso digo:

Quem entende mais cedo esse cenário de aprendizado, mais cedo e mais fácil passa pelo processo.

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