O dia em que vi uma galinha ser chamada de knorr

Fazia frio e eu estava pouco agasalhado.

O sol, que poderia aliviar o efeito do vento, jazia vencido por trás de densas nuvens de chumbo.

Não havia muito que esperar de um dia que se iniciava tão hostil quanto a tempestade que o precedera. Seria a primeira visita de um jovem garoto, filho de amigos, aos ares idílicos do campo e nada indicava que a experiência resultasse significativa.

Desiludido, eu os aguardava do lado de fora.

Nem bem o carro parou, o menino aponta para algo que não entendi e repete insistentemente uma frase que não me foi possível ouvir.

Bastou a porta abrir para eu perceber que a desesperança que me acossava não correspondia ao que uma simples galinha era capaz de fazer aos jovens criados em prédios rodeados de prédios.

“– Uma knorr, mamãe, uma knorr! Olha, mamãe, uma knorr!”

Eu gostaria de dizer penas, mas o costume é outro: escamas me caíram dos olhos.

Nunca o garoto havia visto uma galinha.

E eu achando que as montanhas, o rio, as árvores a subir, as frutas a comer seriam seu grande presente.

Não!

Uma galinha…

Uma galinha foi responsável por mudar a vida de um menino…

Um menino que só as conhecia estampadas numa caixinha de tempero e que sequer sabia seu verdadeiro nome:

“– Não, filho, é uma galinha”

“– Galinha?”

“– Sim, galinha”

Jamais perguntei por que meus amigos nunca haviam corrigido o garoto em casa; nem como explicaram que o frango ensopado, ou assado, ou frito, que eles frequentemente comiam, tinha sido, em algum momento, uma galinha viva em algum lugar. Só sei que ver o menino (que não era tão novo, 7 anos!) conferir se sabia o nome verdadeiro de cada coisa foi tão surpreendente que nunca mais esqueci que a luz que ilumina nossa vida não necessariamente é a do sol. Naquele dia, o sol visível nem apareceu, mas a luz e o calor daquelas descobertas nos iluminou e aqueceu de um jeito definitivo.

Moral da história para os aprendizes de piano: não desista do seu plano só porque o céu parece cair na sua cabeça. Se você for fiel aos desígnios que estabeleceu para si, vai conseguir coordenar as mãos, aliviar o peso da esquerda, aplicar dinâmica, ler partitura etc etc e etc.

Nunca perca a esperança.

E mantenha sempre as mãos nas teclas.

(Nota: Totalmente iniciante no piano ou teclado? Então conheça o Minicurso de Piano Para Iniciantes. Cadastre-se aqui.)

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