Existe uma perturbação na força.
Não é o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro, nem o quarto, nem o quinto, nem está em quantidade suficiente pra contar com os dedos das mãos, que me envia uma mensagem perguntando alguma coisa de teoria e, inoculado subitamente na pergunta, a idéia de que utilizar um acorde em qualquer inversão que seja “é a mesma coisa”. E neste fim de semana, outra vez, me enviaram uma mensagem com essa idéia embutida.
Quando isso acontece, é batata:
Tem professor por aí espalhando essa perturbação.
O restante desta mensagem servirá pra quem sabe o que é um acorde.
“Inversão de acorde” é alterar a nota utilizada no baixo:
Ao invés da nota fundamental do acorde mais a esquerda, utiliza-se alguma outra nota do acorde.
Veja bem: isso que acabei de descrever é uma simplificação.
Uma simplificação útil.
O primeiro truque pra simplificação foi dizer que “esta mensagem servirá pra quem sabe o que é um acorde”.
Assim não foi preciso deixar o texto mais complexo.
Não foi necessário explicar o que é um “acorde”…
Nem o que seja a “nota fundamental”…
Outro truque de simplificação foi excluir as regras do “utiliza-se alguma outra nota do acorde”.
Pois existem limites pra isso.
Outro truque foi deixar de fora o como, porquê, e onde utilizar as inversões.
Agora, se alguém simplificou a explicação tanto tanto tanto, dizendo que pode-se utilizar a inversão de acordes como preferir porque “é a mesma coisa”, aí a simplificação chegou no limiar da estupidez. Embora em alguns casos a mudança na inversão do acorde não faça tanta diferença, nunca é “a mesma coisa”, e em outras vezes é desastroso.
Se um compositor colocou na partitura um Dó Maior na posição fundamental…
Você não pode utilizar uma inversão só porque achou mais confortável…
E porque acha que “é tudo a mesma coisa!”
Nâ-ná-ni-ná-não.
Imagine que você é o dono de um Fusca, de um Fiat Uno, e de um Ford Galaxie 1963.
E alguém lhe pergunta:
“– Vai para o trabalho de que hoje?”
E sua resposta é:
“– Vou de automóvel!”
O que você respondeu?
Basicamente respondeu que não vai andando, nem de bicicleta, mas com algum carro.
Mas qual deles?
Isso exige que o sujeito pergunte:
“– Qual automóvel?”
Aí você responde:
“– Com o mais novo!”
Fim da conversa.
Mas somente se o sujeito souber qual é o mais novo.
Senão ainda vai perguntar:
“– O Fiat Uno é o mais novo?”
“– Não, o Fiat Uno é 91, o Fusca é um Itamar 94”.
E, veja só, a conversa foi longe simplesmente porque, na primeira pergunta, você não respondeu:
“– Vou de Fusca!”
Essa falta de clareza, essa tendência para a ambiguidade, é o resultado da aplicação de inversões.
Não é a casa da mãe joana.
É um recurso pra quem sabe o que está fazendo com o discurso musical.
E para aqueles que querem aprender a tocar piano, a primeira coisa que devem fazer pra invadir o país chamado “Sei O Que Estou Fazendo” é ter muita experiência prática com a música. Acumular definições teóricas, atalhos, e macetes não vai ajudar nisso.
(Nota: Se você é um estudante intermediário de piano e sente que está empacado no aprendizado, faça seu cadastro pra receber o conteúdo Como Criar Exercícios Para Piano! Cadastre-se aqui.)