Não posso morrer enquanto isto não estiver estripado, decapitado, incendiado e jogado no fundo do mar…

Vamos dar um nome fictício para uma pessoa real:

Dona Luíza.

Dona Luíza, 59 anos.

Dona Luíza, 59 anos, há 5 praticando piano.

5 anos praticando?

Deve estar felicíssima, não?

Mais ou menos.

Praticando piano há 5 anos, Dona Luíza, 59 anos, me pergunta se eu tenho dicas de como desenvolver sua mão esquerda, pois aprendeu com seu professor (não comigo) a ler cifras e tocar apenas acordes em bloco na esquerda e a melodia na direita. Depois de tanto tempo, ela esperava conseguir fazer algo a mais com a mão esquerda.

O que posso dizer?

Um dos meus objetivos de vida é ver esse tipo de confusão morto e enterrado pra sempre.

Provavelmente quem vai sair derrotado sou eu…

Mas vou continuar tentando.

A confusão que me refiro é:

Achar que porque está em contato com o piano, então todo o universo do piano está disponível.

Não me entenda mal:

Ir pro piano e meter a mão na massa é essencial.

Várias vezes venho aqui só pra incentivar isso.

Mas só porque está fazendo alguma coisa no piano, não significa que vai se fazer bem e, principalmente, não significa que automaticamente qualquer possibilidade musical e pianística vai acontecer. Partitura em duas claves, improvisação, polirritmia, percepção musical, teoria harmônica, acompanhamento, enfim, não se cria algum grau de domínio nessas coisas só porque se copiou algum tutorial de teclas de algum lugar.

De alguma maneira, Dona Luíza achava que isso deveria ocorrer automaticamente.

Sim, o professor pode ter enrolado ela.

Pode não ter explicado o que estava fazendo e quais eram os limites.

E talvez ele seja mesmo o único culpado.

Mas quanto menos pessoas estiverem confusas, que saibam que as coisas não acontecem automaticamente, mais difícil fica pra esse tipo de professor malandro.

Agora você também já está avisado.

E talvez comece a entender porque vivo falando em “objetivo” e “caminho”:

Porque o caminho é o caminho pra algum objetivo…

E o objetivo é alcançado por algum caminho.

Sair da confusão é encontrar a coerência entre os dois.

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