Arte feita diante de um público requer um certo sangue-frio.
Coisa da qual os pintores estão dispensados.
Mas atores, dançarinos e músicos, sem isso, não se criam.
Conheço um ex-ator que vomitou no palco e só quem percebeu que ele estava passando mal foram seus amigos de cena. O público, no fim da peça, bateu palmas, virou as costas e foi embora. Ninguém notou que havia algo fora do script. Na verdade, alguns foram perguntar como ele conseguiu fazer aquilo.
O fato é que ele REALMENTE vomitou, mas a coisa passou como parte da peça.
Ou seja:
Em termos de piano, o que não se pode fazer NUNCA é, durante uma execução ao público, acender o holofote em cima de um erro fazendo aquelas caretas disparatadas que apontam a falha.
Errou, meu amigo? Segue como se nada tivesse acontecido.
Na cara dura e deslavada…
Como se você fosse o mais dissimulado e enganador dos homens.
Como se seu sangue fosse o mesmo dos jacarés.
Às vezes a gente quer demonstrar que errou só pra mostrar que sabe que errou.
Besteira!
Siga tocando na tranquilidade imperturbável de um monge.
Não aponte nada.
E quando você for se gravar tocando, a mesma coisa:
Não pare, não volte e não faça careta.
Exercite sua capacidade de sangue-de-crocodilo e siga tocando.
Errou?
Siga.
Aprenda a dissimular que vai até parecer que você está tocando melhor.
E, aproveite que termina hoje, aprenda a tocar até chegar em Chopin aqui: