Uma pintura, uma escultura, um livro.
Essas três coisas são produtos da arte.
Mas não da arte de performance.
Arte de performance é aquela cujo produto você presencia o artista realizando na sua frente.
Uma dança, uma encenação teatral, uma música.
Esses são o produtos da arte de performance.
Agora, uma coisa que eu reparo, sem nenhuma investigação séria, só fruto da observação pessoal mesmo, é que antigamente havia um valor muito importante entre todos os artistas de performance, que era enquanto estivessem demonstrando sua arte, essa demonstração deveria ser feita de tal maneira que não deveria transparecer qualquer esforço.
A dança ou a música ou a cena deveria ser executada e o público jamais deveria pensar:
“– Nossa que coisa complicada e difícil!”
Se fosse pra pensar alguma coisa, deveria ser no máximo:
“– Ele faz parecer tão fácil!”
Aliás, isso ia além da performance.
Mesmo em entrevistas o artista era muito reservado sobre comentar a parte de “trabalho duro” do seu trabalho. Reparo que isso era um valor importante principalmente antes de 1950. E não desejo aqui fazer qualquer especulação sobre o que aconteceu pra ocorrer uma mudança.
Uma mudança ao ponto de o valor ter se invertido.
E apesar de gostar muito desse valor antigo, percebo um efeito colateral negativo.
Toda aquela impressão de “nossa! como parece fácil!”…
Talvez tenha colaborado demais para a mística do “dom musical”.
O sujeito vê o artista trabalhando daquela maneira…
A coisa parece fácil…
Então ele imagina que também poderia realizar aquilo…
Logo na primeira tentativa fica claro que não será tão instantâneo.
A justificativa?
“– Não nasci com dom”
Pronto, tá resolvido…
Aquele artista lá recebeu um raio de zeus, por isso toca daquele jeito.
Longe de mim dizer que não existe dom musical.
Mas normalmente o dom musical não significa fazer música automaticamente.
Normalmente “dom musical” é apenas um outro nome para paciência.
Paciência e coragem.
Se existem valores necessários pra lidar com música, com certeza são esses dois.
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