Considerando que você já aprendeu as notas da mão direita e da esquerda, já juntou as duas mãos bem devagar, de pequeno trecho em pequeno trecho; já colocou a música no ritmo certo, contando em voz alta, com e sem a ajuda de um metrônomo, também bem devagar; então é hora de dar uma colorida, de dar uma vida, de acrescentar pitadas de sentido à sua interpretação.
Sentido no sentido de a coisa ter sentido.
Sem essas pitadas, não vai ser possível captar muito bem a música como um discurso, que é exatamente o que ela é.
E sem perceber o discurso, não tem como captar o sentido.
Então a gente precisa tornar a música que estamos executando um discurso reconhecível para que o sentido das frases fique evidente.
1 – A primeira pitada é a dinâmica natural.
Quando as notas estão indo para o agudo, você vai crescendo em intensidade, vai tocando cada vez mais forte. Quando as notas estão indo para o grave, você vai diminuindo a intensidade, vai tocando mais fraco.
Isso só não deve ser respeitado quando o compositor aponta algo diferente na partitura.
Em todos os outros casos, faça exatamente assim.
Não duvide que esse é um dos elementos presentes numa interpretação que faz você suspirar e declarar “que lindo!” quando ouve uma música bem executada.
2) A segunda pitada é terminar as frases tocando fraco.
Mais um produtor de suspiros…
É só tocar a última nota de cada frase de modo mais fraco que as anteriores.
É de arrepiar…
Claro que você tem de saber identificar as frases pra colocar essa técnica em prática.
Mas, uma vez sabendo, é tocar de leve a última nota.
Considere a aplicação dessas duas técnicas sua entrada num campo mais sutil da música.
Você está, vamos dizer assim, saindo do corpo da música para acessar os primeiros elementos da alma dela.
Não é lá grande coisa.
Ainda são só pitadas de sal.
Mas esse é o tempero essencial. Você vai começar a dar gosto ao que está tocando.
As notas certas, no ritmo certo, são meio que o corpo da música.
São a base material.
Mas parecem comida sem sal: mata a fome sem proporcionar muita satisfação.
O frio na barriga começa na hora que essas pitadas de sal vão delineando o discurso e revelando o sentido do que você está tocando.
É batata (frita com sal)!
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