Você está apenas fantasiando o desejo de tocar piano?

Com precisão quase total, posso adivinhar que você viu – ou ouviu – alguém tocando piano ou teclado e agora deseja fazer a mesma coisa. Assim como 90% das pessoas têm o desejo de tocar piano despertado ao observar outro pianista, 99.9% desistem por outro motivo semelhante.

Elas querem tocar do mesmo jeito que viram alguém fazendo, mas NÃO estão dispostas a investir tempo e dinheiro para percorrer o caminho do aprendizado.

É exatamente isso que é uma “fantasia de desejo“, pois não é um desejo verdadeiro.

Desviando da velha máxima dos professores de piano que simplesmente respondem a falta de avanço nos estudos do aluno com “— Pratique, pratique, pratique…”, vou tratar neste artigo de assuntos mais amplos, que não dizem respeito somente ao instrumento, para com isso dar a você uma motivação mais fundamentada.

Antes de sermos músicos, somos seres humanos, e tudo o que concorre para o nosso autoconhecimento garante que as nossas decisões e ações sejam menos vazias, menos impulsivas, e passem a expressar uma maturidade crescente.

Para entender melhor essa maturidade, vamos jogar um pouco de luz na nossa capacidade de “desejo impulsivo” e já voltamos a tratar do piano.

O desejo impulsivo…

Se você prestar atenção, vai perceber que todas as nossas ações têm um objetivo, isto é: a gente só faz tudo o que faz para alcançar alguma coisa.

Isso serve para tudo, tudo, tudo; até mesmo para aquilo que “não gostaríamos de fazer”, como acordar cedo para ir trabalhar: você acorda cedo PARA cumprir o contrato e não ter desconto no salário, PARA se manter e, quem sabe, sobrar algum dinheiro, PARA poder comprar um presente para alguém, PARA ver a pessoa feliz. E assim você ficar feliz também.

Fizemos isso para alcançar aquilo, desde a ação mais elementar (acordar cedo para não se atrasar) até chegar ao objetivo mais distante (articulando todas as ações, esperamos que o resultado seja mais felicidade).

Tenho sérias razões para acreditar que tudo o que fazemos é, no fim das contas, para que alcancemos mais satisfação e felicidade.

É só você pensar se conhece alguém que trilha o caminho contrário: “não, não, o que quero mesmo é ser infeliz”. Tal pessoa não existe, até os pilantras esperam satisfação nas suas pilantragens.

Contudo, mesmo que o objetivo final de todos nós seja a felicidade, os caminhos que levam a ela são feitos de etapas agradáveis e desagradáveis. E eu tenho, também, sérias razões para crer que as dificuldades do caminho existem para nos fazer crescer, para nos fazer subir de nível, e nos tornarmos, com isso, melhores na chegada do que na partida.

Perceba como tudo isso é muito sério. Repare como aqueles que desistem diante das dificuldades podem ser considerados piores do que aqueles que as vencem, como quem vence se torna muito mais forte no final. Mais maduro, para resumir.

Eu sei que isso não é novidade para você, mas é sempre bom a gente lembrar dessas coisas básicas, assim podemos fazer nossas escolhas lembrando que o que está em jogo é a nossa melhora ou piora, não só a conquista disso ou daquilo, mas o fortalecimento da nossa personalidade como um todo, que, dentro desse assunto tratado aqui, poderia ser expresso assim: — Sou capaz de encarar, suportar, superar, vencer as etapas que levam à conquista do objetivo que escolhi?

Não são bem as respostas “sim” ou “não” que vão me fazer pensar que você se deixa levar por desejos impulsivos, mas, pior: “— Não parei para pensar nisso!!!”.

Aí realmente não vai dar. Se você tem mais de 18 anos e me vier com essa, não é de um professor de piano que você precisa, mas de um pai.

(Nota: Se é mesmo de um professor de piano que você precisa, aproveite o Minicurso de piano para iniciantes: Cadastre-se aqui.)

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O máximo que posso fazer é ajudá-lo com esse artigo, lembrando que nada de bom é alcançado sem esforço e trabalho… e persistência e determinação e PACIÊNCIA.

Se você não está disposto a praticar todas essas coisas, tudo o que vai conseguir é ser conduzido de desejo impulsivo em desejo impulsivo até a fragmentação total da sua pessoa. Isso quer dizer que o que nos torna uno é a articulação das nossas ações em torno de um ou mais desejos, objetivos, sonhos.

O desejo impulsivo só ocorre com freqüência em pessoas imaturas, que não se perguntam se realmente querem aquilo que acham que querem. Como elas se alimentam de desejos momentâneos, diante da primeira dificuldade desistem de se tornarem capazes de obter o que queriam.

Esse é um mal altamente difundido hoje em dia. Vivemos numa época desgraçada, na qual os objetivos das pessoas são, em geral, fantasias de desejos. Elas não passam da fase de se imaginarem portadoras das capacidades que almejam.

Isso quando a situação não é ainda pior e os objetivos não passam de mesquinharias: primeiro porque são mais fáceis de obter, depois porque a noção de MELHOR foi esquecida.

Não acreditamos mais que existem coisas melhores do que outras, tudo foi relativizado.

Mas eu tenho esperança de que as pessoas interessadas em aprender a tocar piano ou teclado saibam que existem coisas melhores e coisas piores e que as melhores, normalmente, dão mais trabalho, mas, também, dão mais satisfação.

A maturidade está tanto em entender a subordinação dos percalços à finalidade dos objetivos quanto escolher objetivos que valham à pena.

Se você escolher algo que seja mesmo bom, no processo da conquista, vai melhorar muito como pessoa, e, no final, além de possuir o que desejava, terá esse ganho extra, que será muito mais do que uma simples satisfação: será um belo passo para a FELICIDADE.

E posso dizer em alto e bom som: APRENDER A TOCAR PIANO É UM OBJETIVO MAGNÍFICO.

Música é uma linguagem única, que possibilita que nos expressemos de uma maneira que só ela permite. Arrisco mesmo a dizer que ela nos deixa mais inteligentes, porque desenvolve a percepção de estados emocionais, aumentando a consciência do que se passa dentro de nós.

Isso sem falar na capacidade narrativa e no senso de harmonia, que ela também desenvolve.

Além disso, e o mais importante de tudo, a música é o instrumento essencial do senso estético, da assimilação e comunicação da BELEZA.

Em suma: ela é um elemento indispensável para a sua educação – entendida como cultivo da alma. Uma alma cultivada é aquela inclinada a escolher sempre o melhor, que desenvolveu suficientemente a atração pelo BELO, BOM e VERDADEIRO.

E a boa música preenche você com BELEZA, e isso repercute na sua pessoa inteira, tornando-o melhor em todos os aspectos: você se encaminha para um CARÁTER mais NOBRE.

Isso tudo é tão fundamental que me faz novamente lembrar da lástima dos nossos tempos. Eu não queria ficar batendo nessa tecla, mas a coisa salta aos olhos. A degradação moral que vivemos está diretamente relacionada com a queda da qualidade da música que se consome (veja o peso dessa expressão, consome: você se alimenta dela, se torna ela).

Por isso que se tornar capaz de veicular a Beleza é um dos maiores BENS que você pode realizar. Acho que o mundo nunca precisou tanto disso. O Brasil, então, nem se fala, isso aqui parece uma terra de loucos.

O caminho não é reto…

Mas, para trilhar esse caminho aprendendo piano, muitas pedras terão de ser removidas. Não vou mentir para você.

Tocar piano é uma arte complexa. Você terá de se superar muitas vezes até ela se tornar natural.

No entanto é possível chegar lá. Muita gente já chegou e muitos outros vão chegar. Até eu, veja só, que fui desacreditado por antigos professores, aprendi.

Se você estiver começando do zero, e está pensando em aprender na intuição, digo que isso é possível, principalmente para música popular; mas, há um porém, as pessoas que aprenderam assim normalmente foram criadas num ambiente altamente musical, com músicos executando seus instrumentos do lado delas a toda hora.

Essa não é a situação da maioria das pessoas. A maioria precisa de um método e de um bom professor.

E considerando que você está pensando em me escolher como o seu professor, vou dar a primeira lição repetindo as principais coisas que falei nesse artigo, agora aplicadas ao aprendizado de piano:

  • Tenha o seu objetivo musical muito claro (tocar na igreja, para amigos, em concertos etc.);
  • Conheça os meios para alcançar esse objetivo;
  • Mantenha uma postura ativa, enfrentando suas principais dificuldades com seriedade;

Agora, a principal:

  • Praticar música é transferir algo que você absorveu, então ABSORVA o que há de melhor, se alimente do melhor.

Para manter a chama da vontade acesa e as dificuldades do caminho serem vencidas, é preciso que você não perca de vista a finalidade de tudo o que está fazendo e encontre nas melhores obras o seu alimento predileto: a BELEZA na sua melhor forma.

Se o seu desejo de aprender a tocar piano não é momentâneo, o convívio com o que há de melhor em música é a melhor maneira de fazê-lo passar pelas dificuldades do aprendizado com fôlego forte. Além daquele ganho no caráter, que vem como a cereja do bolo.

Para entender melhor o quadro geral do aprendizado que proponho — e se você é mesmo um estudante iniciante — sugiro que se inscreva (sem custo nenhum) no meu Minicurso de Piano Para Iniciantes. Assim você receberá as lições básicas e informações de como participar de conteúdos mais aprofundados.

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