Os cabeças-de-pudim atacam novamente

Nesta semana um aluno me perguntou sobre um certo aplicativo americano pra aprendizado de piano.

Eu já conhecia esse aplicativo…

Ele utiliza o conceito de “gamification” na sua estrutura.

Ou seja, tudo é estruturado de modo a parecer um jogo.

O jogador realiza uma tarefa e ganha uma recompensa em pontos, se fizer com sucesso.

Com base nesse “incentivo”, dizem, o jogador aprende piano brincando.

Isso é apenas mais uma tentativa dos cabeças-de-pudim atacarem novamente. Um aplicativo como esse é uma espécie de “guia de teclas” (subterfúgio que evita ter de aprender a ler partituras). Eu também utilizo esse subterfúgio em alguns treinamentos, mas o conteúdo não se resume a isso. É realmente deprimente que o vídeo de apresentação do aplicativo junte uma família feliz, rindo sem parar, enquanto magicamente a filhinha pequena segue a telinha do aplicativo.

Eu sei que isso não funciona direito por dois motivos:

Existem mais professores ruins do que bons professores por aí.

E tive muito contato com professores ruins.

Sei que a maioria deles não passa de um “guia de teclas”:

Eles ensinam qual a tecla correta, ensinam um pouco de teoria, e você tem de passar o resto da vida sendo aluno dele se quiser continuar aprendendo música.

Não há verdadeiro aprendizado ali.

Você não está tomando posse de um conhecimento humano acumulado.

Está apenas sendo como um fantoche do professor.

Pois o aplicativo em questão faz exatamente a mesma coisa.

O aluno fica todo travado no instrumento, não tem nenhuma segurança no que está fazendo. Nem mesmo tem coragem de assumir que toca piano, pois sabe que seu aprendizado está cheio de buracos. Essa é a situação dos alunos que chegam até mim depois de passar por esses professores.

Existe algo mais cabeça-de-pudim do que isso?

Sim, existe.

O conceito de “gamification” (transformar tudo num jogo) ainda carrega um problema:

Ele aumenta a ansiedade do estudante.

Você fica obsessivo em terminar as missões.

E a auto-consciência que a música deveria desenvolver, vai por água baixo.

Tudo pra acumular alguns pontinhos no aplicativo.

Sei que provavelmente isso deve ter algum embasamento psicológico…

Alguma desculpa do tipo “é o jeito que nosso cérebro funciona”.

Não me importo com esse tipo de desculpinha científica.

Já tive experiência com “gamification” em outros tipos de estudo, e não é nada agradável.

Sabe, essa é a mesma tática usada pra treinar um cachorro: toda vez que ele faz uma ação correta, uma ação esperada pelo treinador, ele ganha um petisco. O cãozinho está sempre salivando, aguardando a próxima vez que ele será recompensado. Esta é a imagem perfeita de quem estuda por esse meio: um cãozinho salivando.

Nada pode ser mais cabeça-de-pudim do que isso.

Claro que não estou dizendo que todos os aplicativos são ruins.

Desde que você utilize ele como gente…

Sem problemas.

(Nota: Quer começar a aprender piano longe do modo cabeça-de-pudim? Então cadastre-se no Minicurso de Piano Para Iniciantes. Cadastre-se aqui.)

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