Quando me mandam vídeos ou quando vão tocar algo para eu avaliar, muitos alunos primeiro discorrem uma bula indicando tudo o que devo prestar atenção e, depois de executada a música, ainda sentam no banco dos reús e defendem-se com todas as leis e narrativas disponíveis, justificando porque tal e qual coisa aconteceu durante a música.
Tudo sem eu ter dito nada.
Isso me faz lembrar da primeira vez que fui pra Nova York, combinado que estava de me apresentar para um professor da Juilliard. Assim que cheguei na casa desse professor, ele também havia acabado de chegar.
Logo depois de uma viagem de algumas semanas.
Com o detalhe de ter esquecido o aquecedor ligado.
Nem percebi a temperatura no começo.
Lembre-se que era uma época que não havia redes sociais e smartphones.
Aquele professor era só um nome pra mim, seria a primeira vez que eu o via.
Numa situação de estar num país desconhecido, tentando ser aceito por alguma escola de música respeitada.
Depois da conversa cordial inicial…
Fui até o piano.
Quando comecei a tocar, aquela temperatura de 50 graus começou a bater tão forte que, juro, eu estava suando até pelas unhas.
Senti que estava me embananando todo.
O espetacular mesmo foi a avaliação do professor.
Foi cirúrgico falando daquilo que eu realmente precisava trabalhar.
Será que ele não sabia que eu estava nervoso?
Ele não percebeu os erros e tropeços adicionais?
Claro que percebeu.
Mas ELE TAMBÉM PASSOU POR SITUAÇÃO SEMELHANTE.
Ele sabia o que olhar.
Nenhuma explicação ou justificativa minha era necessária.
As situações no piano não existem só pra aluno X ou Y, existem pra todos, e isso significa que os professores sabem distinguir a profundidade das dificuldades e sabem distinguir as situações imprevistas ou não.
Por isso não se deixe abater pelo que parece exclusivamente um problema seu.
Com toda certeza não é.
Faça aquilo que está no seu alcance.
Vá pro piano e mantenha-se sempre no caminho.
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