Rodeando o universo do piano (e da música em geral) existem 4 desejos libidinosos:
1) ouvido absoluto
2) leitura à primeira vista
3) improvisação
4) memorização
E chamo de “desejos libidinosos” porque funcionam justamente como a mistura maluca de um apetite sexual descontrolado: uma mistura de “não resisto” + “não quero admitir” + “nunca estou satisfeito” + “imaginação exageradamente descontrolada” + “propaganda enganosa chegando de todos os lugares” + “parece mais importante do que é”.
E essa mistura maluca é quase a definição de fetiche.
Algo que atribuimos um poder mágico desconhecido.
A origem do desejo incontido dessas coisas no universo do piano é simplesmente a vontade de ter uma habilidade que parece um dom mágico-superior-divino-automático.
“– Ah se eu tivesse ouvido absoluto, seria um Beethoven e não essa desgraça que sou…”
“– Com leitura à primeira vista jamais precisarei estudar alguma música novamente…”
“– Quem improvisa só vai pro piano e faz algo lindo do nada sem esforço…”
“– Se eu memorizar umas 100 músicas jamais precisarei perder tempo no piano em casa e posso só viajar por aí tocando nos pianos em metrôs e o mundo inteiro vai reconhecer meu talento e meus vídeos vão viralizar…”
Não estou dizendo que essas 4 coisas são inúteis…
Que são farsas…
Ou que são impossíveis de alcançar.
Não… não…
Nada disso.
O que estou dizendo é que, com apenas uma única exceção, todas essas coisas são desejáveis e são bons objetivos DESDE QUE NÃO SE FAÇA DELAS UM ÍDOLO MÁGICO QUE SERÁ A SOLUÇÃO PARA TODOS OS SEUS PROBLEMAS NO PIANO, mas que se encare elas como habilidades que precisarão ser treinadas e treinadas e treinadas e repetidas e repetidas e repetidas, por vários anos, até que saindo da confusão quase total se chegue em algum lugar decente, pouco a pouco.
A exceção é o “ouvido absoluto”.
Já conheci pessoas muito respeitáveis que dizem ser possível aprender.
Mas nunca conheci nenhuma que realmente aprendeu.
Então faço essa exceção porque nunca me interessei a ponto de resolver essa questão.
A conclusão é a seguinte:
Se você decidir perseguir essas coisas, saiba que elas não serão a solução mágica para qualquer insegurança ou aparente “falta de talento” que você pensa que tem. Nem são elas uma espécie de bilhete premiado que só uns sortudos adquirem porque a vida é fácil pra eles.
Se parar de tratar essas coisas como desejos malucos inconfessáveis…
E tratar com maturidade…
Aí sem problemas.
São ferramentas ótimas.
Fontes de grande alegria.
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