Como organizar o tempo de estudo de piano

Todo mundo que decide aprender uma coisa nova, seja um idioma, uma arte, ou o que quer que seja, tem dúvidas sobre o modo de organizar os estudos. Para falar a verdade, até mesmo os não-iniciantes apresentam esse dilema.

Entendo perfeitamente como isso funciona. Comecei no piano muito cedo e por isso passei várias fases da vida estudando. Sei o que um adolescente, um jovem, um adulto e um chefe de família (minha atual posição 😀 ) pensam. E nesse tempo todo passei de aprendiz a profissional.

Então, além de saber os problemas das fases da vida, conheço também os problemas que surgem por causa do crescente grau de dificuldade dos estudos.

Foi para oferecer uma proposta de organização dos estudos diários que escrevi este artigo.

A minha intenção é lidar com 3 pontos:

  • O tempo de estudo
  • Os exercícios da técnica pianística
  • As oscilações do ânimo

Você pode ter estranhado esse último item porque não é comum fazer dele um elemento de destaque; mas, acredite em mim, saber usar essas oscilações a seu favor vai evitar que você abandone o sonho de tocar piano. E pode ficar tranqüilo porque não vou me limitar a mandar você continuar estudando mesmo estando desanimado.

Vou, ao contrário, oferecer a você uma maneira de aproveitar os altos e baixos da vontade.

Mas, antes de tratar dos 3 pontos, vou falar de 2 quesitos anteriores, que estão subentendidos nas dicas de organização:

Estou pressupondo que você já sabe que o ÚNICO método para estudar a técnica de piano é o método clássico. Se você nunca ouviu falar disso, leia o que já escrevi sobre aqui.

É importante ressaltar isso porque o segundo dos três pontos que listei acima, os Exercícios da Técnica Pianística, vem do método clássico. E ter uma noção suficiente desses exercícios é o que habilita você a aproveitar as dicas de organização que darei aqui.

O outro quesito é a estrutura de aprendizado tratada na Pirâmide do Aprendizado Musical, que é um mapa que orienta você pelos caminhos do aprendizado, dando a medida hierárquica de cada uma das três partes da pirâmide.

Muito Bem. Já que estabelecemos o background necessário para as dicas de hoje, vamos a elas:

Tempo de Estudo

 
O PONTO CENTRAL dessas minhas dicas, que será o eixo da sua organização, é a fixação do tempo diário de estudo.

Você vai olhar a sua agenda e encontrar a hora que vai começar e a hora que vai terminar o treinamento em cada dia.

Esse será o ponto invariável, o fundamento da geração do hábito de estudar.

É absolutamente necessário que você se habitue a estudar; e para isso é preciso que você não esteja fazendo qualquer outra coisa, certo? Nada de celular, internet, televisão, lanchinho e etc.

Então você vai determinar com precisão a hora que vai começar e a hora que vai terminar, e nesse período a dedicação será de 100%.

Eu sei que a disponibilidade das pessoas é diferente, mas aqui estou falando da sua disponibilidade, que pode variar de 20 minutos por dia até o dia inteiro (lembre-se que sei a diferença entre a vida dos adolescentes e a dos chefes de família).

Se a sua disponibilidade é grande, por exemplo, a tarde inteira, limite o estudo a poucas horas diárias, pelo menos no começo; digamos, duas horas. Duas horas por dia é um tempo considerável, que, bem aproveitado, vai proporcionar a você um bom desenvolvimento.

Continuando nesse exemplo de duas horas, você pode dar uma paradinha de 5 minutos a cada meia hora para aliviar a cabeça: brincar com o cachorro, regar as plantas, tomar uma água, ou qualquer outra coisa. Só cuide para não esquecer de voltar a estudar. O objetivo é SEMPRE cumprir o tempo pré-estabelecido.

E se você só dispõe de 20 minutos ou uma hora a cada dois dias? Não há porque desistir. Na constância e no real aproveitamento do tempo estipulado está o seu sucesso.

O detalhe mais importante é cumprir o tempo programado; mas, se depois de esgotado o período você ainda puder continuar e está com vontade de fazê-lo, não há problema em prosseguir. O problema está em não completar o tempo inicial.

Na medida em que você for avançando, e o hábito de estudar já estiver instaurado, não há problema algum em aumentar o tempo. Isso vai acontecer quase que naturalmente, na verdade.

(Nota: Se você ainda não tem idéia de como preencher o tempo de estudo, cadastre-se, sem nenhum custo, no meu Minicurso para iniciantes e tenha acesso às lições essenciais. Cadastre-se aqui.)

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Os Exercícios da Técnica Pianística

 
Não vou tratar desse ponto de maneira exaustiva, citando e explicando cada exercício. Isso fica para outra oportunidade. Vou simplesmente chamar a sua atenção para um detalhe que à primeira vista parece bobo, mas não é não.

Diz respeito ao conhecimento mínimo da lista de exercícios de técnica.

Sobre esse ponto as coisas mais importantes que tenho a dizer são três:

  1. você terá de saber quais são os tópicos da técnica;
  2. o que cada um deles tem por objetivo;
  3. e a hierarquia que os organiza em mais ou menos importantes para a sua fase de aprendizagem.

Como você pode ver não é nada demais; mas o 2º e o 3º pontos têm de estar muito claros na sua cabeça para que você não gere deficiências que inviabilizem as suas execuções.

Em geral os exercícios de técnica servem para você adequar o seu corpo ao ato de tocar bem. É um condicionamento mesmo, semelhante ao que fazem os lutadores de artes marciais, que passam horas treinando um movimento, ou uma seqüência de movimentos, para que na hora da luta as ações sejam precisas e quase automáticas.

Por isso que o objetivo particular de cada exercício deve estar claro para você, porque cada um treina um detalhe que permite que seu corpo reaja corretamente às necessidades da música. E conhecendo os objetivos você não vai querer deixar de praticar nenhum deles.

Então escalas, arpejos, trinados, terças e sextas paralelas, oitavas, saltos, acordes, notas repetidas, trêmulos etc. etc. e etc. são o meio pelo qual você conquista a liberdade: a liberdade de escolher uma peça e poder executá-la apropriadamente.

A questão de saber a hierarquia entre eles, ou seja, qual ou quais são mais importantes para a sua fase de aprendizagem, vai dar suporte para você escolher direito o que praticar em cada dia.

Mas só para dar uma idéia do uso do tempo, vou dizer que 1/4 dele dedicado à técnica pura é um bom índice. A técnica pura está focada no mecanismo físico, na obtenção da destreza puramente física. É o condicionamento que citei acima. Esse tópico nunca pode faltar.

Aliás, os exercícios de técnica pura devem ser usados no aquecimento. Ao iniciar o seu período diário de estudo você deve se aquecer praticando alguns exercícios de técnica. No livro O Pianista Virtuoso, de Hanon, encontramos os exercícios mais utilizados.

Quanto à escolha dos exercícios de acordo com a fase de aprendizado, não adianta se antecipar na lista sem ter conquistado os fundamentos. Na verdade, se você quiser se antecipar, o que vai ficar evidente é o quanto você precisa praticar mais e mais os exercícios anteriores.

Se você já está estudando uma peça, os exercícios de técnica entram para resolver as dificuldades isoladas. Depois de identificar os trechos com problemas, você vai treiná-los usando os exercícios adequados para solucioná-los; e assim usar da técnica para acostumar seu mecanismo à música escolhida.

As Oscilações do Ânimo

 
Esse é um ponto amplo que abrange a nossa vida como um todo.

Qualquer pessoa que realize regularmente uma atividade passará por momentos de ânimo e de desânimo. Com você não poderia ser diferente. Essa é a vida como ela é.

Um dia a preguiça e o desânimo aparecerão e você precisa estar preparado...

Um dia a preguiça e o desânimo aparecerão e você precisa estar preparado…

Por isso que a recordação do por que você quer tocar piano é importante.

Leia ou releia o Manifesto do Estudante de Piano e lembre o quanto é bom e necessário que a Beleza seja veiculada no mundo. Ainda mais hoje em dia, quando não são poucos os que só querem sacudir ou abalar para depois dar um creu na piriguete.

Sem dúvida alguma a força moral de permanecer no melhor vai reverberar na sua vida e você ficará mais feliz.

Mas, às vezes, o desânimo é fruto da dificuldade de uma etapa, você não vai desistir de aprender, mas quer deixar esse ou aquele exercício de lado, afinal “acho que esse não é tão importante”.

Foi por isso que destaquei nos Exercícios da Técnica Pianística o quanto é imprescindível que você saiba o objetivo de cada exercício; assim a sugestão infame, criada por você mesmo, que um ou outro exercício pode ser abandonado não vai ganhar a batalha.

Mesmo assim o desânimo pode aparecer.

Nesse caso, se você não vai desistir do piano, se conhece uma gama ampla de exercícios e suas variações, e sabe da importância do exercício em questão, pode entrar em cena um macete simples:

Procure trocar de exercício percebendo se a sua atenção se volta ao treinamento. Você pode tanto repetir um exercício que já treinou bastante quanto tentar um mais difícil, que até então você tinha tentado poucas vezes.

A intenção não é pular de galho em galho, muito pelo contrário, é tentar vários galhos para ver qual está mais forte no momento.

Com certeza você vai encontrar um exercício que poderá explorar.

Perceba como isso será feito levando-se em conta os dois primeiros pontos que tratei aqui, O Tempo de Estudo e Os Exercícios da Técnica Pianística.

Você sabe que tem de estudar no tempo que reservou e conhece os vários exercícios e os seus respectivos objetivos, então essa procura de vencer o desânimo estará fundamentada em alicerces firmes.

Você não vai se perder só para se auto-agradar.

No mais, continue assistindo os grandes pianistas executarem as grandes obras, muito mais do que insuflar ânimo de tocar, isso vai lhe insuflar vida.

(Nota: Agora que você já sabe que é possível organizar um tempinho para aprender, aproveite o Minicurso de piano para iniciantes: Cadastre-se aqui.)

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